A urgência de atualizar os limites do Simples Nacional: o que está em jogo
A urgência de atualizar os limites do Simples Nacional: o que está em jogo
O regime do Simples Nacional é vital para milhões de micro e pequenas empresas brasileiras. Ele simplifica tributos e facilita a formalização de negócios, mas enfrenta um problema sério: os limites de faturamento estão congelados há anos, o que gera distorções, prejuízos e perda de competitividade. Recentemente, empresários, entidades de classe e parlamentares têm se movimentado cobrando uma correção urgente. Vamos entender por que isso é tão importante, o que está sendo proposto e quais podem ser as consequências se nada for feito.
O que dizem as propostas de atualização
Com base nas matérias recentes:
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A proposta defendida por representantes do setor produtivo prevê correção de 83,03% nos limites de faturamento do Simples Nacional, para compensar a inflação acumulada desde 2018. (O Correio)
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Se aprovada, o teto do MEI subiria de R$ 81.000 para R$ 144.900; o da microempresa, de R$ 360.000 para R$ 869.400; e o da empresa de pequeno porte, de R$ 4,8 milhões para R$ 8,69 milhões. (O Correio)
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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), através da Fecomércio-RS, alerta que essa defasagem gera impactos graves para empresas que crescem pouco ou moderadamente: ao ultrapassar os limites atuais, muitas são “expulsas” do regime simplificado sem que de fato tenham tido um salto de estrutura equivalente. (FENACON)
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Outro ponto destacado: a necessidade de uma rampa de transição tributária, para suavizar o chamado “degrau tributário” quando a empresa sai do Simples e passa para regimes com carga muito maior. (FENACON)
Por que o limite congelado é um problema
Alguns dos principais impactos desse congelamento:
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Carga tributária mais alta para empresas em crescimento
Pequenos negócios que crescem e ultrapassam os limites do Simples ficam sujeitos a regimes com alíquotas muito maiores. Isso pode comprometer margens, viabilidade do negócio ou até fazer com que desistam da formalização. -
Competitividade prejudicada
Empresas no Simples têm, em geral, custos mais baixos de contabilidade, de obrigações acessórias e tributos. Quando perdem esse enquadramento, enfrentam uma burocracia maior e custos elevados, tornando-se menos competitivas frente a empresas maiores ou informais. (FENACON) -
Desigualdade regional e setorial
Em regiões menos favorecidas, onde o crescimento dos negócios é mais lento, ou em setores com margens apertadas, a rigidez nos limites pode forçar empresas a permanecerem em um patamar menor ou manterem-se informais. Isso também impacta emprego e formalização. (FENACON) -
Resultados macroeconômicos prejudicados
Segundo os cálculos apresentados, atualizar os limites poderia gerar mais de 869 mil empregos e movimentar cerca de R$ 81,2 bilhões na economia. (O Correio)
As propostas de valores: o que muda
Veja os comparativos:
Categoria | Limite atual de faturamento | Limite proposto com correção (~83%) |
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MEI | R$ 81.000 | ~ R$ 144.900 (O Correio) |
Microempresa | R$ 360.000 | ~ R$ 869.400 (O Correio) |
Empresa de pequeno porte | R$ 4,8 milhões | ~ R$ 8,69 milhões (O Correio) |
Esses números retratam não só um ajuste inflacionário, mas também uma tentativa de realinhar o regime Simples Nacional às realidades econômicas atuais, especialmente diante das altas de preços, custos operacionais e inflação acumulada. (FENACON)
Desafios e pontos de atenção
Mesmo sendo uma proposta largamente defendida, alguns desafios devem ser considerados:
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Impacto fiscal para o governo: aumentar os tetos pode reduzir a arrecadação de tributos que hoje vêm de empresas que excedem os limites do Simples, ou forçar mudanças na estrutura tributária para compensar perdas de receita.
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Transição suave: como mencionado, é importante criar mecanismos para que empresas que ultrapassem os tetos atuais não sejam abruptamente penalizadas. A chamada rampa de transição pode incluir alíquotas escalonadas ou prazos para adaptação. (FENACON)
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Periodicidade da correção: se for aprovado, é crucial que as faixas não fiquem congeladas novamente. Definir correções regulares com base em índices confiáveis (como IPCA ou equivalente) reduziria esse tipo de problema.
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Definição clara dos critérios: definir com precisão o que é microempresa, empresa de pequeno porte e MEI, inclusive setores, regimes de apuração, para evitar confusões ou brechas exploradas indevidamente.
Consequências se nada for feito
Se os limites do Simples Nacional continuarem congelados:
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Muitas empresas simplesmente continuarão sendo “forçadas” a sair do regime simplificado, o que pode levar ao fechamento de negócios que não suportarão o aumento abrupto de custo e burocracia.
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A informalidade pode aumentar, já que os custos para permanecer formal serão insuportáveis para alguns empreendedores.
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A perda de competitividade pode empobrecer regiões mais pobres onde os negócios são menores e o crescimento mais lento.
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O setor produtivo pode ficar menos dinâmico, com menor capacidade de criação de empregos e menor investimento.
O que precisa acontecer
Para que a atualização dos limites do Simples seja concretizada de forma eficiente, algumas medidas são urgentes:
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Aprovar um projeto de lei que eleve os tetos conforme os valores propostos (ou compatíveis com o índice de inflação acumulado desde a última correção significativa).
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Incluir no texto legal uma cláusula de correção anual (ou em periodicidade definida) para evitar novo congelamento.
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Criar uma transição para empresas que ultrapassarem os limites atuais, para que não sejam penalizadas de forma súbita.
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Manter diálogo entre entidades empresariais, empresários, contadores, parlamentares e governo para ajustar setores específicos, considerando particularidades regionais.
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Monitorar o impacto fiscal e estruturar medidas compensatórias para evitar queda abrupta de arrecadação ou déficit tributário.
Conclusão
A atualização dos limites do Simples Nacional não é mera conveniência; é uma demanda urgente de justiça tributária, competitividade e sobrevivência econômica para micro e pequenas empresas. O congelamento desde 2018 deixou o regime desalinhado com a realidade econômica brasileira, onerando aqueles que deveriam ser beneficiados pelo regime simplificado.
Se aprovada, a correção proposta — para MEI, microempresa e pequeno porte — pode gerar empregos, manter negócios abertos e reforçar o protagonismo desses empreendedores no tecido econômico nacional.
Para o futuro, é fundamental que a correção seja acompanhada de mecanismos de adaptação e periodicidade, para que o Simples Nacional continue cumprindo seu papel de estimular formalização, gerar emprego e contribuir para um Brasil mais justo economicamente.
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